quarta-feira, 15 de janeiro de 2014


Procrastinando

Nesta semana resolvi tão pouca coisa na minha vida que dá um tanto de vergonha. Não dá tanta vergonha assim porque estou de férias, então me sinto menos pior de ter sido vagal, afinal o ano que passou foi bem difícil, então eu realmente preciso descansar.

Mas, para se ter uma idéia de minha personalidade enrolenta (enrolenta existe sim, acabei de inventar!), depois que me impus o objetivo de ler mais e postar minhas impressões, passei a reler os sete volumes de Harry Potter. Estou no último, então acredito que logo me livro dessa obsessão e posso retornar para a querida Virgínia Wolf, que, acredito, me receberá de braços abertos com "O Quarto de Jacob". Da Virgínia, li somente, até agora, "Passeio ao Farol", e gostei demais; tem aquela coisa de retratar eventos cotidianos com muita sensibilidade, e o mérito de passar da descrição das impressões de um personagem para outro sem prévio aviso e ainda assim ser muito fluido e gostoso de ler. Então, depois que me declarei apaixonada, meu marido comprou uma coleção de livros de Virgínia, então tenho para ler também "A Viagem", "Entre os Atos", "Os Anos", "As Ondas" e "Noite e Dia".
Além disso, quero reler "A Rua das Ilusões Perdidas", que eu li há séculos (acho que no Ensino Médio ainda), mas que deixou forte impressão. Mesmo agora lembro do poema "Cravos Negros", do qual tomei conhecimento naquele romance e, sinceramente, só ouvi falar dele lá, mas transcrevo aqui porque é das coisas mais bonitas que já li:




"Mesmo agora
Se vejo em minha alma a bela de seios de cidra
Ainda de ouro tingida, o rosto como as estrelas da noite,
Envolvendo-a; o corpo abatido pela chama,
Ferido pela lança flamejante do amor,
A primeira entre todas, por seus viçosos anos,
Então meu coração se enterra vivo na neve.


Mesmo agora
Se minha jovem de olhos de lótus volta a mim,
Extenuada ao peso tão querido do amor juvenil,
Outra vez eu lhe daria estes braços gêmeos, de amor famintos,
E de seus lábios beberia o vinho inebriante,
Como uma abelha a zumbir e flutuar
A roubar o mel do nenúfar.

Mesmo agora
Se deitada a visse, os olhos bem abertos,
As faces pálidas a brilhar,
Se prolongando às orelhas delicadas,
Sofrendo a febre da minha distância,
Então meu amor seria cordas de flores à noite,
Um amante de pretos cabelos no seio do dia.

Mesmo agora
Meus olhos que se apressam para não mais ver, estão
pintando, pintando sempre,
Os rostos de minha jovem perdida. Ó anéis dourados,
Que se esbatem contra as faces de pequenas folhas
de magnólia,
Ó tão alvo e tão macio pergaminho
Em que meus pobres lábios escreveram
Os mais lindos poemas de beijos
E não mais vão escrever.

Mesmo agora
A mente me envia o adejar de pálpebras,
Sobre olhos desvairados e a compaixão do corpo esguio,
Abatido pela exaustão da alegria;
As vermelhas flores dos seios foram o meu conforto
E abrigo, e com pesar recordo
Úmidos lábios carmins que já foram meus.

Mesmo agora
Clamam de sua fraqueza nos bazares
De quem tão forte foi para me amar. E mesquinhos homens,
Que compram e vendem por prata e são escravos,
Os olhos se enrugando na gordura; e nunca houve
Um Príncipe das Cidades do Mar que a arrebatasse
E a levasse para sombrio leito. Ah, minha jovem solitária,
Que a mim se aderiu como um traje adere; meu amor.

Mesmo agora
Ainda amo os pretos olhos que afagam como seda,
Sempre e para sempre tristes, olhos sorridentes,
As pálpebras projetando tão suave sombra quando fecham,
E outra linda expressão que se forma.
Amo os lábios viçosos, ah, a boca perfumada,
E cabelos ondulados, sutis como fumaça,
E dedos leves e riso que transborda em gemas verdes.

Mesmo agora
Ainda lembro que me fez reagir suavemente,
Sendo uma só alma, sua mão em meus cabelos,
A memória ardente a rodar seus lábios próximos;
Vi a sacerdotisa de Rati fazer amor ao luar,
E depois no salão forrado pelo dourado brilho do lampião
Deitar indiferente para dormir, em qualquer lugar.

Mesmo agora
Sempre ouço as vindas e falas dos sábios homens das torres
Onde passaram a juventude a pensar. E, escutando,
Não encontrei o sal dos sussurros do meu amor,
O murmúrio das cores confusas, em que deitados ficávamos,
quase adormecidos;
Eram palavras sábias, alegres palavras,
Lascivas como água, com o mel da ansiedade.

Mesmo agora
Não me esqueço que amei ciprestes e rosas,
As grandes montanhas azuis, as pequenas colinas cinzentas,
O marulho do mar. E houve um dia
Em que vi estranhos olhos e mãos como borboletas;
Por mim, as cotovias alçaram vôo do timo ao amanhecer
E crianças vieram se banhar em pequenos córregos.

Mesmo agora
Sei que saboreei o gosto intenso da vida,
Erguendo taças de ouro no grande banquete.
Apenas por um momento fugaz e esquecido
Tive plenamente em meus olhos, desviados de meu amor,

A torrente alva da luz eterna..."

Também fiquei muito curiosa para ler "Água Viva", de Clarice Lispector, depois da leitura da biografia.
Além dos romances, quero ler ainda "A Era dos Extremos", de Eric Hobsmawm e "Em Defesa das Causas Perdidas", de Slavoj Zizek. 
No mais, eu queria tentar intercalar a leitura de um clássico com algo mais recente, preferencialmente de escritores brasileiros. Aceito sugestões.
Vou começar para valer, assim que terminar "Harry Potter e as Relíquias da Morte". A ver.


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